terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O meu preferido


Acho que Cidade de Deus, Tropa de Elite e Meu nome não é Johnny formam a trilogia (uma trilogia de irmãos modernos, irmãos de pais diferentes) que têm por missão desnudar o mundo das drogas e do tráfico sob óticas diferentes. O traficante foi retratado. A "poliça" foi retratada. O consumidor jovem-classe-média também. Não me cabe aqui o julgamento de como a vida turbinada por substâncias ilícitas foi retratada aqui ou ali, mas me sinto no direito de escolher, como mera espectadora e cinéfila no tempo que a vida me permite, o irmão mais bonito desses três avulsos. Fico com Cidade de Deus: obra-prima de Fernando Meirelles, um roteiro incrível, fotografia idem, atuações inusitadamente perfeitas, talvez "o" retrato que essa realidade cruel merecia.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Uma rede pelas letras

Acaba de dar no JN: aumenta o consumo de livros no país, impulsionado, principalmente, pela curiosidade de crianças e adolescentes pela leitura. A novidade é essa. O fato que todos já estão carecas de saber é que o hábito de ler começa em casa, com o exemplo e incentivo da família.
Não pude deixar de me recordar daquele que talvez tenha sido o melhor presente que ganhei quando criança, dos queridos tios Minho e Val: uma linda coleção completa do Sítio do Pica-Pau Amarelo, ilustrada com desenhos do autor e toda em capa dura. Criança que era, incentivada também pela série do Sítio exibida na década de 80 pela TV Globo, devorei a coleção.
Devo ter apenas 5 dos exemplares, que guardo como relíquias. As demais me foram privadas pela convicção que tenho de que livro não é pra ficar na estante: é pra ser emprestado, é pra ser lido por todos, é pra ganhar vida em outros olhos, mentes, mãos. Espero que aqueles que nunca me devolveram minhas preciosas edições, tenham ao menos se rendido ao hábito da leitura como eu me rendi pro resto da vida.
Os adultos podem dar o exemplo, a escola pode e deve criar a curiosidade e a tevê (baby sitter eletrônica de muitas crianças), também é responsável por complementar essa cadeia de busca pela leitura.
Leiam, pais! Leiam, professores! Leiam, crianças! E façam da tevê, da internet, do cinema, a busca por novos autores, novas histórias, novas referências. Cabe à indústria do livro e ao governo no nosso Brasil brasileiro, facilitar o acesso. Vamos criar neste país uma rede em prol das letras e da cultura. Ninguém perde nessa.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Me tira dessa vida!

Ao menos Julia usava uma peruca, né, gente?


Sempre morro de rir com a propaganda dos produtos Niely Gold, estrelada por Carolina Ferraz e Richard Gere. Sim, ele mesmo, o príncipe da "Linda Mulher" Julia Roberts.
Tá certo que a marca é bem popular, tanto que anuncia em programas como o de Eliana, Sônia Abrão, Gugu, Márcio Garcia e, claro, BBB. Nadíssima contra!
Mas se por um lado o "reclame" me parece datado, clichê e gozadíssimo com Gere tentando falar português, por outro lado me parece que é o tipo de surpresa que as clientes da marca querem ter. Querem todas ser Julia, Carolina ou whatever, desde que um grisalho rico, famoso e charmoso (valeria até o Fagundes, minha gente!) as convidasse para jantar, livrando-as, assim, da vida da solidão, do aluguel, dos carnês, das manicures de bairro e das tintas e cremes baratinhos como os da Niely...

Eu não aguento, eu não aguentoooo!

Britney (a campeã), Glória Maria, Carla Bruni e Sarkozy, "as FARC", febre amarela, BBBs com passado na Globo, Fashion Rio, SP Fashion Week, Tropa de Elite, greve dos roteiristas, Kaká-é-o-melhor-do-mundo, cada minuto da vida de Ivete Sangalo, o sempre iminente fim da Xuxa, qualquer linha escrita sobre Preta Gil, qualquer foto publicada da Sra. Beckham, a nova namorada do Marcos Paulo, a miss-Brasil-e-vice-miss-mundo. Siri e Alemão, os imortais. Silvossantos castigou alguém usando o Chaves, a última de Êmiuainerráuse ou Périsrrilton ou Lindisseilorran, gente que grita "u-hu", Lobão é chato ou Lobão é legal, a próxima capa da Playboy, Marília Gabriela como atriz, Lady Di não era assim ou não queria assado, vira-e-mexe um novo caos aéreo, a propaganda do Dollynho, o fim de Sandy e Junior, a dupla. Cicarelli. Gisele no Brasil, o fim da CPMF é uma farsa (e alguém duvidava?), MASP é uma bagunça, globais seminuas nos ensaios da Sapucaí, Marta Suplicy e seu risinho irônico, vai ter Oscar ou não vai??

E você? Não aguenta mais o quê?? Desabafa ou enfarta, meu bem.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Renasceres


"Qualquer pessoa se mata no dia em que se encontrar." - Maysa

Frase de uma das maiores cantoras e compositoras brasileiras e, à mesma proporção, uma das mais controversas personalidades da vida artística desse país, em matéria assinada por Afrânio Brasil Soares, colaborador de "O Cruzeiro", na virada de 1959 para 1960. Maysa vivia em Paris uma jornada pessoal em busca de auto-conhecimento, que se provava mais uma tentativa vã (felizmente) de auto-destruição. Fase que marcou o primeiro grande renascimento dessa sobrevivente. Maysa tinha talento para cantar, mas especialmente para sobreviver. Estou lendo "Maysa - Só numa multidão de amores", de Lira Neto. Fascinante.


“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos.” - Marguerite Yourcenar

"Este foi o cartão de Natal enviado pela juíza Marilena Soares a João Guilherme Estrella em dezembro de 1996. Ele, que na adolescência tinha sido o típico garoto da zona sul carioca, na idade adulta havia se transformado no maior vendedor de drogas do Rio. Preso em 1995 e aguardando julgamento, João já havia percorrido, e ainda percorreria, um longo caminho para, finalmente, entender o que realmente continham aquelas palavras da juíza que era considerada uma das mais rigorosas do País. (...)" - trecho extraído do site http://www.meunomenaoejohnnyfilme.com.br/, que divulga o filme "Meu nome não é Johnny", estrelado por Selton Mello, dirigido por Mauro Lima e escrito por Lima e Mariza Leão, que assisti na semana passada e, detalhes críticos à parte, considero um grande filme.

Maysa em sua passionalidade e Yourcenar acreditando que à luz da razão podemos ser melhores... Essas duas máximas não se excluem, ao que pode parecer à primeira vista. Seja de paixão ou razão, acredito que só quando sabemos quem realmente somos, na incompreensão das forças e na crueza das fraquezas, enfrentando aos poucos o medo de olhar verdadeiramente para dentro, é que morremos um pouco para recomeçar.

João Estrella (não Johnny) ou Maysa, somos todos capazes de operar o milagre da ressurreição.

Supermãe!


Esse post é só pra comentar que este humilde bloguinho começou a ser visitado pela mais ilustre das internautas: Dona Sônia, minha querida e supermãe. Mãe, te amo!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Eu SE recuso

Minha gente! Em nome da absurda popularidade deste blog (rs), declaro que não, NÃO vou escrever sobre as moças e moços deste BBB. Não! Não vou me prestar a digitar uma só linha sobre os rapazes de Campinas e de Limeira, não vou falar da inconsistência dos discursos, dos assassinatos gramaticais, das tentativas dos participantes em ganhar o público fazendo triângulo amoroso, mostrando as partes pudicas na piscina, formando casalzinho ou posando ora de coitadinhos, ora de amiguinhos da galera. Não! Não falarei sobre voto por afinidade, não direi nada sobre as possíveis cabaninhas, sobre as baixarias nas festas, não comentarei as fofocas e nem sequer escreverei sobre a homossexualidade do tal "psicopata".

Mas que eu vou assisitir... Ah, isso vou! Essa porcaria vicia. Ontem já me peguei torcendo (batendo palma, gritando e tudo mais) logo no primeiro paredão. Ô vida.

Reparem no look Chiquinha da Bianca! Super tendência e muito digno esse modelo da modernete auto intitulada electroclash.

A mulher que surta resolvendo coisas

Me senti como Britleine, ao ser enganada resolvendo problemas na oficina mecânica!

Coisa 1: Pagar um boleto que ainda não estava vencido e que imprimi pela Internet, em cash-dinheiro-bufunfa-cacau, cenlão em 5 notinhas bem durinhas de 20. Pego uma macro-fila na micro-agência do banco Real que fica dentro do pretenso xópicentis. Quando chega a minha vez, a mocinha do caixa tem a coragem de dizer que NÃO (com aquela cara deslavada de "hahaha, imagine!"), "o banco não pode estar recebendo esse boleto, essa é uma agência em que somente clientes podem estar efetuando suas transações". Mas peraí: eu sou cliente Real, minha filha! E isso é um banco, uma agência do Banco Real. "Não, minha senhora, mas não dessa agência. Por favor, a senhora pode estar pagando o seu boleto no Ponto Frio ou no Magazine Luiza". A minha vontade foi perguntar: "Ah, tá! Desculpe o engano! Pra eu não perder a viagem, me informe quanto sai a geladeira duplex em 10 prestações, porque eu tô precisando trocar a de casa. O Banco Real faz carnê??"

Coisa 2: Buscar o relógio do marido que ficou ontem à noite na requintadíssima joalheria Glamour (no mesmo xópis) para trocar bateria. "Ah, mas não está pronto, não, o relojoeiro só chega depois das duas!" (...) Conto até dez. "Minha filha, ontem à noite você disse que podíamos retirar hoje, não disse o horário." E ainda queria completar: "Eu sacrifiquei o meu horário de almoço em vão e a culpa é sua!". Mas vai que ela me diz que isso é problema meu, né?? Saio batendo o pé, bufando e fazendo aquela cara de desaprovação que, quem me conhece, sabe que não é bolinho.

Coisa 3: Deixar o reloginho charmoso da moda com o qual a Mama Noela aqui se auto-presenteou neste Natal na loja comprada, visto que após 2 semanas de uso a pulseira de prástico se rompeu enquanto eu retirava os cocôs de minhas doces cadelinhas do quintal (em momento desperate housewive), fazendo com que, na ocasião, a caixa do bendito reloginho fosse parar no saco de lixo (para ser reencontrada, obvia e milagrosamente, muito tempo depois). Ainda bem que quem me atendeu foi uma moça gentil, que consultou o fabricante do reloginho, me deu um papelzinho e me orientou a voltar lá 30 dias depois. A-hã. Quase perguntei: "Mas moça, até lá o relógio até já saiu de moda, fia!"... Respirei fundo, joguei o papelzinho na bolsa e saí da loja. A mocinha gentil não tem culpa que a fábrica demore 1 mês inteiro para trocar uma mísera pulseira de prástico. E que ainda quebra à toa. Humpf.

Bora comer uma esfiha de carne com Coca Zero quente e voltar pra firma. Porque a fome é tanta que eu já não sei mais se comprei uma geladeira no banco, se a bateria do relógio do marido vai demorar 30 dias pra ser trocada ou se viro hippie, encerro a conta no banco e deixo de consumir, porque, confesso, é tanto desrespeito que dá nos nervos.



terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Nossa língua portuguesa

Vocês já repararam na dicção esquisita de alguns profissionais do jornalismo de TV? Me irrita profundamente ouvir um repórter ou apresentador forrrrrrçando o carioquês. Como se percebe que é forçado? Ora, o "s" só chia em alguns trechos da palavra e em outros fica bem sibilante. Por exemplo: "castanhas" vira "caixxxxtanhassss"... pra quê forçar um sotaque desses, meu Deus do céu, e ainda aos trancos e barrancos, meio pela metade? Com o "r" isso também acontece: "cortar" vira "corrrrtar"... (primeiro erre arranhado, segundo erre normal). Outra coisa que não compreendo é a omissão da letra "i" em algumas palavras. Glória Maria é expert nessa. "Dois" vira "dos"; "pois" vira "pos" (no caso da Glória, viram mesmo é "doxxxx" e "poxxxxxxxx"). Meu povo, vamos falar a língua como ela deve ser falada, porque o povo brasileiro acredita que tudo o que se fala (e como se fala) na televisão é padrão, é decreto, é lei. Aos erres e esses a pronúncia que lhes é de direito, ora pois.

Minha vida no ar

Não, este não é um blog SÓ sobre cinema. Mas preciso comentar (e recomendar) uma deliciosa comédia francesa que assiti no Cinemax durante as férias. "Ma vie en l'air", de Rémi Bezançon. Yann, o charmoso e atrapalhado protagonista, é instrutor de vôo mas tem pânico de avião. Aos 20, perdeu a chance de ir ao encontro de um grande amor por conta dessa incapacidade de voar. E, aos 30, tenta resolver os dilemas pessoais de uma vida com os dois pés bem fincados (quer dizer... mais ou menos) no chão. Texto gostoso (talvez com charme extra por conta da língua, é verdade) e elenco bacana. Ótimo para se esparramar no sofá em uma tarde de quarta-feira, com pipoca no colo e sorriso no rosto.

P.S. Não posso deixar de comentar que 1 dia antes havia revisto "Le fabuleux destin d'Amélie Poulain". Quero mais cinema francês. Alguém tem uma boa indicação?

Aproveitando esse momento très France, deixo a dica: http://www.cinefrance.com.br/cinemateca/funcionamento/. Não é bacana?? Como o Santo Google não opera milagres sozinho, indique a quem possa usufruir! Uma boa ação très chic.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Sabor e perfume da Índia

Último dia de férias merece um prato especial para comemorar. Estou preparando um Xacuti à moda de Goa, ou seja, frango à moda indiana. A nossa boa e velha ave envolvida em leite de coco, curry, coco ralado, açafrão, páprica, pimenta do reino. Receita ainda em execução e o cheiro das especiarias tomando a casa e abrindo nosso apetite. Bom variar, bom arriscar-se. Nunca imaginei, por exemplo, cozinhar temperos secos e vê-los mudando de cor. A culinária internacional não é o bicho papão que parece, basta uma receita pra seguir e a vontade de se aventurar. Posto a receita depois! Bom domingo!

P.S. Pesquei essa receita da Revista Ana Maria e confesso que fiquei um pouco chateada, pois o redator não deve entender muito de cozinha. Apesar de confuso, deu pra executar o passo-a-passo, mas esse pessoal podia ter mais consideração com os leitores. Já redigi revistas culinárias (bons tempos de EAA!) e a gente tinha a preocupação de se imaginar fazendo o prato ao seguir o "modo de fazer" e não sossegava até ter a certeza de que a receita estava perfeitamente compreensível. Fica o puxão de orelha.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Obrigada, obrigada, mil vezes...

Hoje fui brindada com um gesto lindo da Dona Iraci, que me desmontou e trouxe um carinho gostoso como um sol de tarde fresca a esse dia cinzento, abafado e chuvoso. Um terno e doce agradecimento de mãe (que eu não creio merecer, sem qualquer tipo de falsa modéstia) me fez relembrar como é bom falarmos, nos expressarmos, deixarmos que vejam o tamanho de nosso coração, sem medo. Obrigada, “tia”, por não ser um mais um iceberg nesse mundo e por ter se tornado hoje mais um motivo para fazer com que tantas coisas importantes pra mim valham tanto a pena.

P.S. Uma de minhas resoluções de ano-novo é me deixar derreter, velho iceberg que sou. Afinal, somos todos oceano.

CINE DESABAFO

Não gosto muito do Adam Sandler. Acho que ele sempre imprime uma cara meio de bobo, meio de paspalhão aos papéis que faz, o que até funciona em suas costumeiras comédias descompromissadas, mas atrapalha em filmes um pouco mais profundos, como “Reine Sobre Mim”, com Sandler e Don Cheadle, que (apesar dessa observação) vi hoje e gostei bastante. Um bem escrito e conduzido roteiro sobre o poder da amizade (nada clichê, ainda que a minha forma de expressar isso tenha sido super-lugar comum), sobre até onde podemos nos envolver na vida de quem está por perto, sobre deixarmos derreter os icebergs que somos, permitindo que nos vejam mais do que a superfície – afinal, quem não esconde de tudo e de todos a imensidão que realmente é? O filme amplifica os efeitos pessoais de uma catástrofe mundial como o 11 de Setembro, mas também fala do medo de errar, da vontade de agradar sempre, de evitar a qualquer custo os bons e velhos embates, que tanto nos fazem crescer quando conduzidos com maturidade e amor.

Em tempo: Don Cheadle está ótimo e preciso, como sempre.


P.S. E já que esse post se chama “cine-desabafo”, preciso confessar também que não gosto muito do Selton Mello. Pronto, falei! Acho que ele sempre faz o mesmo tipo, enfim, talvez devesse se arriscar mais atuando em obras mais consistentes e menos “inovadoras”, se é que me entendem. E assistindo ontem o filme “O Cheiro do Ralo” me certifiquei de que também não gosto desse “pseudo-cinema-nacional-moderninho”, sacam? Enfim, assistam e confiram com seus próprios olhos e (pré?) conceitos. Ah! É clichê falar mal de áudio em filmes brasileiros, eu sei, mas esse se superou. Quando alugar o DVD não se esqueça de ativar as legendas em português. That's it. E simbora ver "Meu nome não é Johnny", porque a graça da vida é dar a si mesmo muitas chances de se surpreender.