segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mais estranho que a ficção


Ela ainda se lembra. Dos períodos curtos daquela história longa em que haviam sido felizes de verdade. Um filme que seu coração insistia em ver e rever e rever.

Ainda que a vida já não desse conta de voltar tanto a fita, ela sonhava em reescrever aquela droga de final. Já havia criado tantos outros roteiros... Mas de que adiantaria? Aquela era a sua obra-prima (mesmo sabendo que havia outras pra inventar). Sabia que deveria lhe bastar a alegria de um Oscar enfeitando a estante, ainda que por um roteiro de final duvidoso.

Um dia, sozinha, quietinha, a roteirista-mocinha lembrou que o filme até poderia ser reprisado. Mas jamais ganharia uma reedição especial. Seria sempre o seu Oscar de melhor drama. Um repeat ilógico e constante em busca de - quem sabe um dia - se encontrar de novo entre aplausos, dentro de um vestido bonito, com cabelo arrumado, nas mil entrevistas que, desde então, lhe exigiriam conceder.

Ficar muito reflexiva não era sua praia. Mas não é que pensar ajudou? Refilmagens de clássicos costumam decepcionar, afinal. "E logo, logo entra filme novo em cartaz." - constatou ela, com um sorriso no rosto. O cinema é quase sempre auto-referente. E a vida é feita de passado, sim. Mas especialmente de renovação.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Exercício de convivência

Um domingo cinza, de garoa fina que cai sem parar. Banho tomado, zapeando sem rumo, caio em mais um irresistível espisódio de Sex and the City. Carrie, em uma de suas "reflexões", pergunta a si mesma: "Porque damos tanto crédito às críticas negativas que nos fazem?"

Será que não aceitamos ser contrariados? Será que somos tão inseguros a ponto de detestar quando apontam um ou outro defeito que sabemos carregar? Será que temos tanto medo assim de nos enxergar pelo olhar do outro? Porque temer tanto a opinião que fazem da gente? Assinalemos o x onde nos cabe, depois de muita auto-reflexão.

No final do capítulo, a própria Carrie conclui que somos auto-críticas demais. E que o pior crítico que pode haver somos nós, mulheres implacáveis consigo mesmas. Concordo. Porque vivemos sob julgamento constante. E porque, invariavelmente, acabamos caindo também no vício de julgar. No trabalho, nos relacionamentos, na vida. Especialmente nessa era de exposição que a tecnologia nos oferece. E que, irresistivelmente, aceitamos. Conscientes dos "apesares", ou não.

Gênero à parte, a pergunta que não cala: porque há tanta gente na rede irritada com hate blogs, com comentários maledicentes no twitter? Gente que não consegue conviver com opiniões diferentes, com a possibilidade de um diálogo construtivo e com a oportunidade de (quem sabe?) mudar de idéia, só pra variar um pouquinho?

Eu confesso que desconfio muito de quem se diz auto-suficiente, de gente que faz questão de alardear que aperta o foda-se para o mundo. Eu não consigo ser assim, não.

Ao mesmo tempo... porque é que há tantos que encontram na perseguição gratuita um estranho modo de prazer e auto-afirmação? Porque bater tanto em quem tem a coragem de se expor, sem ao menos buscar a gentileza como caminho e o artifício de bons argumentos para contrapor?

Também não entendo as razões de quem opta por estar em evidência sem acreditar que haverá sempre uma oposição. E muito menos compreendo quem resolve fazer de sua vida na rede uma busca incessante por malhar, criticar e observar com olhos sempre maledicentes o direito à expressão do outro.

Enfim... ainda há muito que entender nessa roda-viva de blogs, tuitadas e afins. Eu prefiro deixar de ler quem não me agrada, de parar de seguir quem, mesmo sem querer, me incomoda. Porque há tanta gente boa pra conhecer virtualmente, tanto conteúdo enriquecedor disponível, tanta dica boa e carinho recebidos (no caso do twitter) em 140 caracteres. É tão pouco espaço e, ainda assim (ou por isso mesmo), tudo tão significativo. Pra quê perder tempo, se desgastar? Há gente, palavras e idéias que não somam. Dê passagem. And move on.

Por um pouco de paz e bom senso nos meios digitais, na vida, dentro dessa nossa luta diária por nos entendermos, aceitarmos o outro. Vamos conviver mais com a gente mesmo. Talvez seja a saída. Críticas e contribuições, estejam à vontade. Eu estou tentando me exercitar para não contribuir com as posturas com as quais não concordo. E para crescer com o que me serve. That's it.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Manual

Eu não arrumo a cama de manhã. Gosto de dormir tarde e não desisto das minhas noites produtivas por compromissos que exigem madrugar. Madrugo mesmo insone, oras. Falo à noite, os lençóis dançam embaixo de mim. Acordo um tanto mal-humorada. Mas passa rápido. Quase sempre depois de um bom café. Não gosto de passar roupa. Mas sou íntima das panelas e temperos. Honro o posto de rainha do lar. Gosto de enfeitar, arrumar, organizar. O meu mundinho é simples e honesto. Mundinho, este, que vivo rearranjando. Amo cachorro. Ossinhos, festinha, falar tatibitate com esses seres que me compreendem só pelo tom de voz. É preciso paciência comigo. E com as minhas meninas, sempre carentes e alegres. Tudo ao mesmo tempo. Não gosto que ralhem enquanto dirijo, mesmo que eu faça uma barbeiragem qualquer. Passageiro é passageiro. Mas adoro quem conversa com a motorista o necessário e o desnecessário. Estranhamente, guiar aflora minha criatividade e o meu senso de humor. Especialmente em congestionamentos e estradas intermináveis. Tendo a acumular prazos, cronogramas, responsabilidades. Depois, me estresso tentando ser mais de uma pra dar conta dessa ilusão insana de que tudo posso. Dormir à tarde em um final de semana, ir pro cinema e jantar fora, ainda que na pizzaria da esquina, são bálsamos. Adoro que me lembrem que posso falhar, sim. Mas, principalmente, que o não existe pra ser dito. E que ele pode (e deve) ser usado a todo momento. Não há dois pesos e duas medidas. Eu sou ninguém sem o risco de estar sempre rodeada de gente. Sem me envolver com as pessoas, viver os dramas e as alegrias de cada um. Preciso de troca. Todo o tempo. Ainda que isso, às vezes, exija mais do que a minha bateria agüenta. Gente nunca é causa perdida (salvo raríssimas exceções). E por causas boas, suporto (e me deleito) muito. Vivo indignada, mas não dou tempo pras lamentações virarem desculpas. Tudo o que me incomoda vira combustível novo. Tô sempre no 220. Eu definho sem planos. Não suporto pensar que parei no tempo, no espaço, no tanto de ordinário que essa vida tem. Enfim: preciso fazer valer estar respirando. Oscilo entre a irritação e a vontade de ir adiante. Entre o caos e a tentativa de entendimento. Tem cura, doutor? Acredito que manuais existem pra serem postos à prova. “Será que é assim mesmo que funciona?” É sempre um risco. No bom e no mau. Basta decidir se vale a pena correr. Qualquer coisa, "tamos aí!".

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E vamos viver nosso amor na casinha branca...

Posto um video que me agradou. Não sei se pela comoção da posse, afinal, acreditemos ou não, gostemos ou não, esperemos ou não, é inspiradora. Excesso de entusiasmo à parte, vale pelo romantismo explícito, ainda que um tanto tímido e bem-humorado... o que é ainda mais simpático para um presidente americano e sua primeira dama. Aliás, o desajeitamento de Obama é tão gracioso! Mas gostei, especialmente, pela emoção de Beyoncé. Juro! Sempre achei essa moça até que bacana e coisa e tal, apenas mais uma diva pop... só não sabia que ela podia tanto. Incrível.

"And at laaaaaaaaaaaaaast, the world say good bye to Bush..."

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Rock'n'roll

Capa do novo álbum do U2: "New Line on the horizon"

É minha gente. Fã doente é fã doente. Viciei no single que o U2 lançou hoje (oportunamente, não posso negar) após a apresentação em um dos mil eventos da posse de Obama. Uma música rock'n'roll mesmo (pesadinha como há tempos não se ouvia), com letra sexy e assumida, melodia cheia de variações nada óbvias (daquelas que os fãs decoram e têm orgulho de saber cantar junto) e uma boa dose de auto-referência, divertida que só. Vibrei com a graça de Bono rindo de si mesmo (com o consentimento da banda) no verso: "I got a submarine / You got gasoline / I don’t want to talk about wars between nations" com o confesso complemento: "Not right now!"... Vem mais um grande álbum do U2 por aí. Eu? I need new boots.

Ouça aqui: http://www.u2.com/news/index.php?mode=full&news_id=2292

E acompanhe aqui:

GET ON YOUR BOOTS
The future needs a big kiss
Winds blows with a twist
Never seen a moon like this
Can you see it too?

Night is falling everywhere
Rockets at the fun fair
Satan loves a bomb scare
But he won’t scare you

Hey, sexy boots
Get on your boots, yeah

You free me from the dark dream
Candy floss ice cream
All our kids are screaming
But the ghosts aren’t real

Here’s where we gotta be
Love and community
Laughter is eternity
If joy is real

You don’t know how beautiful
You don’t know how beautiful you are
You don’t know, and you don’t get it, do you?
You don’t know how beautiful you are

That’s someone’s stuff they’re blowing up
We’re into growing up
Women of the future
Hold the big revelations

I got a submarine
You got gasoline
I don’t want to talk about wars between nations

Not right now

Hey sexy boots...
Get on your boots, yeah
Not right now
Bossy boots

You don’t know how beautiful
You don’t know how beautiful you are
You don’t know, and you don’t get it, do you?
You don’t know how beautiful you are

Hey sexy boots
I don’t want to talk about the wars between the nations
Sexy boots, yeah

Let me in the sound
Let me in the sound
Let me in the sound, sound
Let me in the sound, sound
Meet me in the sound

Let me in the sound
Let me in the sound, now
God, I’m going down
I don’t wanna drown now
Meet me in the sound

Let me in the sound
Let me in the sound
Let me in the sound, sound
Let me in the sound, sound
Meet me in the sound

Get on your boots
Get on your boots
Get on your boots
Yeah hey hey

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Oi!



Faz tempo... Passado esse período off, voltamos à nossa programação normal. Eu não sei bem se estava elaborando o luto do 2008 falecido ou organizando o que resolvi fazer deste 2009 bebê. Eu só sei que estava comigo.
Tava quietinha, olhando pra mim, baixando o volume ao redor pra ouvir o heavy metal que tocava sem parar aqui dentro, no compasso desse coração sempre acelerado. Eu parei pra fazer nada até descobrir que o que eu precisava era fazer uma coisa de cada vez. Eu decidi arrumar a minha casa e as minhas coisas, pra agora começar a arranjar essa cabeça que andava cheia demais de coisas pouco importantes que me assombravam como se delas dependesse a vida. Cheia de prioridades alheias. Cheia de ausência de mim.
Tava tentado levar na marra, no peito, sem parar pra respirar. E descobri que o caminho é mais simples quando encarado de frente, que é só fazer o que deve ser feito, sem rodear, sem desviar ou fugir por atalhos. Aquelas coisas que a gente sabe desde o começo que deveria ter feito? Pois é, pois é. Comemoro em dizer que é simples, o que nem sempre significa que seja fácil. Mas é assim. Sem mágica, sem alquimia. Vida real.
Decidi não ser só um vir a ser. Decidi reabrir a lojinha, sacudir a poeira, mexer as pedras, jogar os dados, ler as cartas, rasgar os bilhetes amarelados, arrumar as gavetas, organizar a agenda, fazer listas, baixar o tom e deixar que o meu player interno toque um jazzinho bacana, animado e suave. Decidi que quando eu estiver lá longe quero olhar pra trás sorrindo. Quero não ter me omitido, nem desistido de tudo o que eu posso. E há tanto que eu posso e nem sei. Por enquanto.
A cereja do bolo é não ter tido pressa de fazer as mudanças. Eu sabia que estava pra acontecer, que o gatilho seria apertado... mas fiz questão de chorar tudo o que hoje morre um pouco até a última lagrimazinha. Alívio, alegria, paz.
2009 começa oficialmente hoje pra mim. Está lançada a minha pedra fundamental. Acompanhem por aqui o andamento das obras.
Feliz (re) começo. Diário. Conquistado. Merecido. Que seu ano aconteça entre amanheceres tranquilos e noites bem dormidas, com horas felizes e produtivas no meio. Que todo dia você faça algo bom, seja lá o que for. Eu comecei hoje, voltando aqui pra servir um café e te contar por onde andava esse tempo todo.
Agora, me fala, como vão as coisas por aí?